1-
INTRODUÇÃO
Elaborar um texto é comunicar-se por meio da escrita. Tudo que se
escreve pode ser considerado uma redação ou composição (um bilhete, uma carta,
um e-mail, uma propaganda, uma redação de vestibular...)
Para redigir um texto correto é necessário organizar suas ideias e
moná-las aos recursos expressivos da língua e a leitura é a maior aliada para
escrever bem.
A prática da leitura não nos ensina somente a organização da
língua escrita, mas nos fornece também conhecimentos e ideias que nos auxiliam
no ato de escrever.
Redigir um texto é para muitos uma tarefa difícil. Inúmeros
contratempos começam a surgir, e um deles é a insuficiência de conteúdo. As
ideias não fluem e, mesmo quando surgem, há uma certa dificuldade em
organizá-las. Tal atitude muitas vezes corrobora para um sentimento de
frustração e incapacidade por parte do emissor.
O fato é que a escrita é algo que requer habilidade, determinação,
paciência e aperfeiçoamento constante. Habilidades essas que gradativamente vão
sendo conquistadas de acordo com o hábito da leitura e com a constante
busca por informações, no intuito de ampliarmos nossa visão de mundo, e com a
convivência diária enquanto seres eminentemente sociais.
Fundamentalmente, é preciso que haja clareza quanto à mensagem que
ora se deseja transmitir. E para tal, faz-se necessário planejar, selecionando
cuidadosamente as palavras, articulando bem as ideias, de modo a distribuí-las
em períodos curtos e adequando-as à modalidade textual, tendo em
vista a intencionalidade comunicativa ora em questão.
Na medida em que vamos expressando nossos pensamentos não nos
atemos para uma constante revisão, pois isso pode corromper nossa linha de
raciocínio. Entretanto, uma releitura é capaz de detectar possíveis falhas
ortográficas e gramaticais, como também permite-nos acrescentarmos ou
suprimirmos ideias, entre outros procedimentos.
2- O QUE É TEXTO?
O texto (do latim textu, “tecido”) é um conjunto de
partes articuladas e organizadas entre si. Veja o que diz o poeta barroco
Gregório de Matos acerca dessa relação:
O todo
sem a parte não é todo;
A
parte sem o todo não é parte;
Mas
se a parte o faz todo sendo parte,
Não
se diga que é parte, sendo todo.
Para entender um texto em sua
totalidade, é preciso estabelecer a relação entre as partes, visto que o todo é
a síntese das partes. Para que o leitor tenha acesso à totalidade, é necessário
ainda extrair o tema, o assunto do qual se fala.
Um texto é tudo aquilo que comunica algo, seja ele oral, escrito,
visual ou musical. Do ponto de vista oral e escrito, o texto se constrói a
partir de mecanismos sintáticos e semânticos, os quais são responsáveis pela
produção do sentido.
Para Fiorin o texto “é um todo organizado de sentido, implica
afirmar que o sentido de uma parte depende do sentido das outras. No caso dos
textos verbais, isso significa que ele não é um amontoado de frases, ou seja,
nele as frases não estão simplesmente dispostas umas depois das outras, mas
mantêm relação entre si. Isso quer dizer o sentido de uma frase depende dos
sentidos das demais, o sentido de uma parte do texto depende do sentido das
outras.”
3-
GÊNEROS DO DISCURSO OU GÊNEROS TEXTUAIS
São as estruturas com que se compõe os textos, sejam eles orais ou
escritos, literários ou não-literários. Essas estruturas são socialmente
reconhecidas, pois se mantêm sempre muito parecidas, com características
comuns, procuram atingir intenções comunicativas semelhantes e ocorrem em
situações específicas.
Gênero Textual ou Gênero de Texto se refere
às diferentes formas de expressão textual. Nos estudos da Literatura,
temos, por exemplo, poesia,
crônicas,
contos,
prosa,
narrativa ,etc.
Para a Linguística, os gêneros textuais englobam estes
e todos os textos produzidos por usuários de uma língua. Assim, ao lado da
crônica, do conto, vamos também identificar a carta pessoal, a conversa
telefônica, o email,
e tantos outros exemplares de gêneros que circulam em nossa sociedade.
Quanto à forma ou estrutura das sequências linguísticas
encontradas em cada texto, podemos classificá-los dentro dos tipos
textuais a partir de suas estruturas e estilos composicionais.
Exemplos de gêneros textuais: São textos que anúncios, convites, atlas, avisos, programas de auditórios, provas de
escola, reportagens jornalísitcas, bulas, cartas, cartazes, comédias, contos de
fadas, crônicas, editoriais, ensaios, entrevistas, contratos, decretos, Leis, discursos
políticos, histórias, instruções de uso, letras de música, e-mail, mensagens,
notícias. Circulam no mundo, têm uma função específica, para um público
específico e com características próprias.
Aliás, essas características peculiares de um gênero discursivo
nos permitem abordar aspectos da textualidade, tais como coerência e coesão
textuais, impessoalidade, técnicas de argumentação e outros aspectos
pertinentes ao gênero em questão.
Os gêneros do discurso são enunciados relativamente estáveis,
organizados segundo seu conteúdo temático, seu estilo e suas formas
composicionais. Fazem parte da nossa vida, pois o “emprego da língua efetua-se
em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos” (Bakhtin, 2003,
p.261).
4- FATORES DE
TEXTUALIDADE
4.1.- TEXTUALIDADE: características das quais necessita qualquer
enunciação, haja vista que a mensagem, para ser materializada de forma plausível,
precisa, antes de tudo, estar decifrável mediante os olhos do interlocutor.
- INTENCIONALIDADE
Refere-se ao esforço do produtor do texto em construir uma comunicação
eficiente capaz de satisfazer os objetivos de ambos os interlocutores. Quer
dizer, o texto produzido deverá ser compatível com as intenções comunicativas
de quem o produz.
- ACEITABILIDADE
O texto produzido também deverá ser compatível com a expectativa do
receptor em colocar-se diante de um texto coerente, coeso, útil e relevante. O
contrato de cooperação estabelecido pelo produtor e pelo receptor permite que a
comunicação apresente falha de quantidade e de qualidade, sem que haja vazios
comunicativos. Isso se dá porque o receptor esforça-se em compreender os textos
produzidos.
- SITUACIONALIDADE
É a adequação do texto a uma situação comunicativa, ao contexto. Note-se
que a situação orienta o sentido do discurso, tanto na sua produção como na sua
interpretação. Por isso, muitas vezes, menos coeso e, aparentemente, menos
claro pode funcionar melhor em determinadas situações do que outro de
configuração mais completa. É importante notar que a situação comunicativa
interfere na produção do texto, assim como este tem reflexos sobre toda a
situação, já que o texto não é um simples reflexo do mundo real. O homem serve
de mediador, com suas crenças e idéias, recriando a situação. O mesmo objeto é
descrito por duas pessoas distintamente, pois elas o encaram de modo diverso.
Muitos lingüistas têm-se preocupado em desenvolver cada um dos fatores citados,
ressaltando sua importância na construção dos textos.
- INFORMATIVIDADE
É a medida na quais as ocorrências de um texto são esperadas ou não,
conhecidas ou não, pelo receptor. Um discurso menos previsível tem mais
informatividade. Sua recepção é mais trabalhosa, porém mais interessante e
envolvente. O excesso de informatividade pode ser rejeitado pelo receptor, que
não poderá processá-lo. O ideal é que o texto se mantenha num nível mediano de
informatividade, que fale de informações que tragam novidades, mas que venham
ligadas a dados conhecidos.
- INTERTEXTUALIDADE
Concerne aos fatores que tornam a interpretação de um texto dependente
da interpretação de outros. Cada texto constrói-se, não isoladamente, mas em
relação a outro já dito, do qual abstrai alguns aspectos para dar-lhes outra
feição. O contexto de um texto também pode ser de outros textos com os quais se
relaciona.
·
COERÊNCIA
É o instrumento
que o autor vai usar para conseguir encaixar as “peças” do texto e dar um
sentido completo a ele.
Cada palavra tem seu sentido individual, quando elas se relacionam
elas montam um outro sentido. O mesmo raciocínio vale para as frases, os
parágrafos e até os textos. Cada um desses elementos tem um sentido individual
e um tipo de relacionamento com os
demais. Caso estas relações sejam feitas da maneira correta, obtemos uma
mensagem, um conteúdo semântico compreensível.
O texto é escrito com uma intencionalidade, de modo que ele tem
uma repercussão sobre o leitor, muitas vezes proposital.
Em uma redação, para que a coerência ocorra, as idéias devem se
completar. Uma deve ser a continuação da outra. Caso não ocorra uma
concatenação de idéias entre as frases, elas acabarão por se contradizerem ou
por quebrarem uma linha de raciocínio. Quando isso acontece, dizemos que houve
um quebra de coerência textual.
A coerência é um resultado da não contradição entre as partes do
texto e do texto com relação ao mundo. Ela é também auxiliada pela coesão
textual, isto é, a compreensão de um texto é melhor capturada com o auxílio de
conectivos, preposições, etc.
Vejamos alguns exemplos de falta de coerência
textual:
a)
"No
verão passado, quando estivemos na capital do Ceará Fortaleza, não pudemos
aproveitar a praia, pois o frio era tanto que chegou a nevar"
b)
“Estão
derrubando muitas árvores e por isso a floresta consegue sobreviver.”
c)
“Todo
mundo viu o mico-leão, mas eu não ouvi o sabiá cantar”
d)
“Todo
mundo destrói a natureza menos
todo mundo”
e)
“Podemos
notar claramente que a falta de recursos para a escola pública é um problema no
país. O governo prometeu e cumpriu: trouxe várias melhorias na educação e fez
com que os alunos que estavam fora da escola voltassem a frequentá-la. Isso
trouxe várias melhoras para o país.”
A falta de coerência em um texto é facilmente detectada por um
falante da língua, mas não é tão simples notá-la quando é você quem escreve. A
coerência é a correspondência entre as idéias do texto de forma lógica.
Quando o entendimento de determinado texto é comprometido,
imediatamente alguém pode afirmar que ele está incoerente. Na maioria das vezes
esta pessoa está certa ao fazer esta afirmação, mas não podemos achar que as
dificuldades de organização das idéias se resumem à coerência ou a coesão. É
certo que elas facilitam bastante esse processo, mas não são suficientes para
resolver todos os problemas. O que nos resta é nos atualizarmos constantemente
para podermos ter um maior domínio do processo de produção textual.
·
COESÃO
O
texto tem seus componentes ligados a fim de que formem um só corpo estrutural.
Aos elementos que realizam essa ligação se atribui a função de coesão, que
é uma das marcas fundamentais da textualidade. Ela pode ocorrer por meio da coesão
referencial, da coesão recorrencial e da
coesão seqüencial. A coesão é assunto bem abrangente. Em concurso, observa-se
sua relação com termos, expressões ou idéias, que podem estar antes ou após o
elemento coesivo.
- COESÃO REFERENCIAL
É aquela em que os elementos coesivos fazem referência a algum termo mencionado
no texto anteriormente (anafóricos) ou posteriormente (catafóricos).
Ø A remissão anafórica (para trás)
realiza-se por meio de pronomes pessoais de 3ª pessoa (retos e oblíquos) e os
demais pronomes; também por numerais, advérbios e artigos.
Exemplo: André e Pedro são fanáticos torcedores de
futebol. Apesar disso, são diferentes. Este não briga com quem
torce para outro time; aquele o faz.
Explicação: O termo isso retoma o predicado são fanáticos torcedores de futebol; este
recupera a palavra Pedro;
aquele , o termo André; o
faz, o predicado briga com
quem torce para o outro time - são anafóricos.
Ø A remissão catafórica (para a
frente) realiza-se preferencialmente através de pronomes demonstrativos ou
indefinidos neutros, ou de nomes genéricos, mas também por meio das demais
espécies de pronomes, de advérbios e de numerais. Exemplos:
1- Qualquer
que tivesse sido seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara
de profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos
dele, o professor, gordo e silencioso, de ombros contraídos.
Explicação: O pronome
possessivo seu e o pronome
pessoal reto ele antecipam
a expressão o professor - são catafóricos.
2. O incêndio havia destruído tudo: casas, móveis, plantações.
3. Desejo somente isto: que me dêem a oportunidade de me
defender das acusações injustas.
4.O enfermo esperava uma coisa apenas: o alívio de seus
sofrimentos.
5. Ele
era tão bom, o presidente assassinado!
Dois processos caracterizam a coesão referencial:
SUBSTITUIÇÃO
o Existe
a hipótese de fecharmos contrato hoje. Ela deve
ser analisada com cuidado.
o Nossa
empresa oferece preços módicos. Nossa concorrente faz o mesmo.
o A
indústria brasileira e a boliviana geram muito lucro. Ambas são
concorrentes.
o O
eletricista será transferido para a Europa. Lá faz muito frio.
5- REFERÊNCIAS:
BAKHTIN,
M. Estética
da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.
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