terça-feira, 14 de maio de 2013

MATERIAL PRODUÇÃO DE TEXTO - PARTE 1



1-    INTRODUÇÃO

Elaborar um texto é comunicar-se por meio da escrita. Tudo que se escreve pode ser considerado uma redação ou composição (um bilhete, uma carta, um e-mail, uma propaganda, uma redação de vestibular...)
Para redigir um texto correto é necessário organizar suas ideias e moná-las aos recursos expressivos da língua e a leitura é a maior aliada para escrever bem.
A prática da leitura não nos ensina somente a organização da língua escrita, mas nos fornece também conhecimentos e ideias que nos auxiliam no ato de escrever.
Redigir um texto é para muitos uma tarefa difícil. Inúmeros contratempos começam a surgir, e um deles é a insuficiência de conteúdo. As ideias não fluem e, mesmo quando surgem, há uma certa dificuldade em organizá-las. Tal atitude muitas vezes corrobora para um sentimento de frustração e incapacidade por parte do emissor.
O fato é que a escrita é algo que requer habilidade, determinação, paciência e aperfeiçoamento constante. Habilidades essas que gradativamente vão sendo conquistadas de acordo com o hábito da leitura e com a constante busca por informações, no intuito de ampliarmos nossa visão de mundo, e com a convivência diária enquanto seres eminentemente sociais.
Fundamentalmente, é preciso que haja clareza quanto à mensagem que ora se deseja transmitir. E para tal, faz-se necessário planejar, selecionando cuidadosamente as palavras, articulando bem as ideias, de modo a distribuí-las em períodos curtos e adequando-as à modalidade textual, tendo em vista  a intencionalidade comunicativa ora em questão.
Na medida em que vamos expressando nossos pensamentos não nos atemos para uma constante revisão, pois isso pode corromper nossa linha de raciocínio. Entretanto, uma releitura é capaz de detectar possíveis falhas ortográficas e gramaticais, como também permite-nos acrescentarmos ou suprimirmos ideias, entre outros procedimentos.
2-    O QUE É TEXTO?
O texto (do latim textu, “tecido”) é um conjunto de partes articuladas e organizadas entre si. Veja o que diz o poeta barroco Gregório de Matos acerca dessa relação:
O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo.

            Para entender um texto em sua totalidade, é preciso estabelecer a relação entre as partes, visto que o todo é a síntese das partes. Para que o leitor tenha acesso à totalidade, é necessário ainda extrair o tema, o assunto do qual se fala.
Um texto é tudo aquilo que comunica algo, seja ele oral, escrito, visual ou musical. Do ponto de vista oral e escrito, o texto se constrói a partir de mecanismos sintáticos e semânticos, os quais são responsáveis pela produção do sentido.
Para Fiorin o texto “é um todo organizado de sentido, implica afirmar que o sentido de uma parte depende do sentido das outras. No caso dos textos verbais, isso significa que ele não é um amontoado de frases, ou seja, nele as frases não estão simplesmente dispostas umas depois das outras, mas mantêm relação entre si. Isso quer dizer o sentido de uma frase depende dos sentidos das demais, o sentido de uma parte do texto depende do sentido das outras.”

3-    GÊNEROS DO DISCURSO OU GÊNEROS TEXTUAIS

São as estruturas com que se compõe os textos, sejam eles orais ou escritos, literários ou não-literários. Essas estruturas são socialmente reconhecidas, pois se mantêm sempre muito parecidas, com características comuns, procuram atingir intenções comunicativas semelhantes e ocorrem em situações específicas.
Gênero Textual ou Gênero de Texto se refere às diferentes formas de expressão textual. Nos estudos da Literatura, temos, por exemplo, poesia, crônicas, contos, prosa, narrativa ,etc.
Para a Linguística, os gêneros textuais englobam estes e todos os textos produzidos por usuários de uma língua. Assim, ao lado da crônica, do conto, vamos também identificar a carta pessoal, a conversa telefônica, o email, e tantos outros exemplares de gêneros que circulam em nossa sociedade.
Quanto à forma ou estrutura das sequências linguísticas encontradas em cada texto, podemos classificá-los dentro dos tipos textuais a partir de suas estruturas e estilos composicionais.
Exemplos de gêneros textuais: São textos que anúncios, convites, atlas, avisos, programas de auditórios, provas de escola, reportagens jornalísitcas, bulas, cartas, cartazes, comédias, contos de fadas, crônicas, editoriais, ensaios, entrevistas, contratos, decretos, Leis, discursos políticos, histórias, instruções de uso, letras de música, e-mail, mensagens, notícias. Circulam no mundo, têm uma função específica, para um público específico e com características próprias.
Aliás, essas características peculiares de um gênero discursivo nos permitem abordar aspectos da textualidade, tais como coerência e coesão textuais, impessoalidade, técnicas de argumentação e outros aspectos pertinentes ao gênero em questão.
Os gêneros do discurso são enunciados relativamente estáveis, organizados segundo seu conteúdo temático, seu estilo e suas formas composicionais. Fazem parte da nossa vida, pois o “emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos” (Bakhtin, 2003, p.261).

 4-    FATORES DE TEXTUALIDADE

4.1.- TEXTUALIDADE: características das quais necessita qualquer enunciação, haja vista que a mensagem, para ser materializada de forma plausível, precisa, antes de tudo, estar decifrável mediante os olhos do interlocutor.

  • INTENCIONALIDADE
Refere-se ao esforço do produtor do texto em construir uma comunicação eficiente capaz de satisfazer os objetivos de ambos os interlocutores. Quer dizer, o texto produzido deverá ser compatível com as intenções comunicativas de quem o produz.

  •  ACEITABILIDADE
O texto produzido também deverá ser compatível com a expectativa do receptor em colocar-se diante de um texto coerente, coeso, útil e relevante. O contrato de cooperação estabelecido pelo produtor e pelo receptor permite que a comunicação apresente falha de quantidade e de qualidade, sem que haja vazios comunicativos. Isso se dá porque o receptor esforça-se em compreender os textos produzidos.

  • SITUACIONALIDADE
É a adequação do texto a uma situação comunicativa, ao contexto. Note-se que a situação orienta o sentido do discurso, tanto na sua produção como na sua interpretação. Por isso, muitas vezes, menos coeso e, aparentemente, menos claro pode funcionar melhor em determinadas situações do que outro de configuração mais completa. É importante notar que a situação comunicativa interfere na produção do texto, assim como este tem reflexos sobre toda a situação, já que o texto não é um simples reflexo do mundo real. O homem serve de mediador, com suas crenças e idéias, recriando a situação. O mesmo objeto é descrito por duas pessoas distintamente, pois elas o encaram de modo diverso. Muitos lingüistas têm-se preocupado em desenvolver cada um dos fatores citados, ressaltando sua importância na construção dos textos.

  • INFORMATIVIDADE
É a medida na quais as ocorrências de um texto são esperadas ou não, conhecidas ou não, pelo receptor. Um discurso menos previsível tem mais informatividade. Sua recepção é mais trabalhosa, porém mais interessante e envolvente. O excesso de informatividade pode ser rejeitado pelo receptor, que não poderá processá-lo. O ideal é que o texto se mantenha num nível mediano de informatividade, que fale de informações que tragam novidades, mas que venham ligadas a dados conhecidos.

  • INTERTEXTUALIDADE
Concerne aos fatores que tornam a interpretação de um texto dependente da interpretação de outros. Cada texto constrói-se, não isoladamente, mas em relação a outro já dito, do qual abstrai alguns aspectos para dar-lhes outra feição. O contexto de um texto também pode ser de outros textos com os quais se relaciona.

·        COERÊNCIA

É o instrumento que o autor vai usar para conseguir encaixar as “peças” do texto e dar um sentido completo a ele.
Cada palavra tem seu sentido individual, quando elas se relacionam elas montam um outro sentido. O mesmo raciocínio vale para as frases, os parágrafos e até os textos. Cada um desses elementos tem um sentido individual e um tipo de relacionamento com os demais. Caso estas relações sejam feitas da maneira correta, obtemos uma mensagem, um conteúdo semântico compreensível.
O texto é escrito com uma intencionalidade, de modo que ele tem uma repercussão sobre o leitor, muitas vezes proposital.
Em uma redação, para que a coerência ocorra, as idéias devem se completar. Uma deve ser a continuação da outra. Caso não ocorra uma concatenação de idéias entre as frases, elas acabarão por se contradizerem ou por quebrarem uma linha de raciocínio. Quando isso acontece, dizemos que houve um quebra de coerência textual.
A coerência é um resultado da não contradição entre as partes do texto e do texto com relação ao mundo. Ela é também auxiliada pela coesão textual, isto é, a compreensão de um texto é melhor capturada com o auxílio de conectivos, preposições, etc.
Vejamos alguns exemplos de falta de coerência textual:

a)     "No verão passado, quando estivemos na capital do Ceará Fortaleza, não pudemos aproveitar a praia, pois o frio era tanto que chegou a nevar"
b)    “Estão derrubando muitas árvores e por isso a floresta consegue sobreviver.”
c)     “Todo mundo viu o mico-leão, mas eu não ouvi o sabiá cantar”
d)    “Todo mundo destrói a natureza menos todo mundo”
e)     “Podemos notar claramente que a falta de recursos para a escola pública é um problema no país. O governo prometeu e cumpriu: trouxe várias melhorias na educação e fez com que os alunos que estavam fora da escola voltassem a frequentá-la. Isso trouxe várias melhoras para o país.”

A falta de coerência em um texto é facilmente detectada por um falante da língua, mas não é tão simples notá-la quando é você quem escreve. A coerência é a correspondência entre as idéias do texto de forma lógica.
Quando o entendimento de determinado texto é comprometido, imediatamente alguém pode afirmar que ele está incoerente. Na maioria das vezes esta pessoa está certa ao fazer esta afirmação, mas não podemos achar que as dificuldades de organização das idéias se resumem à coerência ou a coesão. É certo que elas facilitam bastante esse processo, mas não são suficientes para resolver todos os problemas. O que nos resta é nos atualizarmos constantemente para podermos ter um maior domínio do processo de produção textual.

 ·        COESÃO

O texto tem seus componentes ligados a fim de que formem um só corpo estrutural. Aos elementos que realizam essa ligação se atribui a função de coesão, que é uma das marcas fundamentais da textualidade. Ela pode ocorrer por meio da coesão referencial, da coesão recorrencial e da coesão seqüencial. A coesão é assunto bem abrangente. Em concurso, observa-se sua relação com termos, expressões ou idéias, que podem estar antes ou após o elemento coesivo.

- COESÃO REFERENCIAL

É aquela em que os elementos coesivos fazem referência a algum termo mencionado no texto anteriormente (anafóricos) ou posteriormente (catafóricos).
Ø A remissão anafórica (para trás) realiza-se por meio de pronomes pessoais de 3ª pessoa (retos e oblíquos) e os demais pronomes; também por numerais, advérbios e artigos.
Exemplo: André e Pedro são fanáticos torcedores de futebol. Apesar disso, são diferentes. Este não briga com quem torce para outro time; aquele o faz.
Explicação: O termo isso retoma o predicado são fanáticos torcedores de futebol; este recupera a palavra Pedro; aquele , o termo André; o faz, o predicado briga com quem torce para o outro time - são anafóricos.

Ø A remissão catafórica (para a frente) realiza-se preferencialmente através de pronomes demonstrativos ou indefinidos neutros, ou de nomes genéricos, mas também por meio das demais espécies de pronomes, de advérbios e de numerais. Exemplos:

1- Qualquer que tivesse sido seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos dele, o professor, gordo e silencioso, de ombros contraídos.
Explicação: O pronome possessivo seu e o pronome pessoal reto ele antecipam a expressão o professor - são catafóricos.
2. O incêndio havia destruído tudo: casas, móveis, plantações.
3. Desejo somente isto: que me dêem a oportunidade de me defender das acusações injustas.
4.O enfermo esperava uma coisa apenas: o alívio de seus sofrimentos.
5.  Ele era tão bom, o presidente assassinado!

Dois processos caracterizam a coesão referencial:

SUBSTITUIÇÃO
o  Existe a hipótese de fecharmos contrato hoje. Ela deve ser analisada com cuidado.
o  Nossa empresa oferece preços módicos. Nossa concorrente faz o mesmo.
o  A indústria brasileira e a boliviana geram muito lucro. Ambas são concorrentes.
o  O eletricista será transferido para a Europa. faz muito frio.


5-    REFERÊNCIAS:

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003.


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