terça-feira, 6 de março de 2012

Análise do soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”, de Camões


O soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”, de Luís Vaz de Camões, trata de um conceito do amor na concepção do neoplatonismo, pois, acentua-se o dualismo platônico entre sensível e inteligível, matéria e espírito, finito e infinito, mundo e Deus. Este soneto é uma definição poética do amor. Como se Camões quisesse definir este sentimento indefinível e explicar o inexplicável, colocando imensos contrastes para caracterizar este “mistério”. Para Camões, o Amor (com A maiúscula) é um tipo de ideal superior, perfeito e único, pelo qual há o anseio de atingi-lo, mas como somos imperfeitos e decaídos, somos ao mesmo tempo incapazes de chegar a esse ideal. O amor é visto, então, como um sentimento que envolve sensações e que ocorre quando existe um senso de identidade entre pessoas com identidades bem definidas e diferenciadas. Existe a dualidade da incerteza do amor “físico” (com a minúscula) com o Amor ideal, assim o amor é um tipo de “imitação” do Amor, na realidade o autor procura compreender e definir o processo amoroso. Conceituando a natureza paradoxal do amor, o soneto ressalta em enunciados antitéticos, compondo um todo lógico, o caráter paradoxal do sentimento amoroso. Esclarecendo-se, entretanto, que tais contradições são, por vezes, aparentes, pois, a segunda pane de cada verso funciona como complemento da primeira, enfatizando-a por intermédio da aproximação de realidades distintas.

O aspecto material, sensível “ferida que dói”, “é dor que desatina” é oposto ao espiritual “em que se sente”, “sem doer”, como, de resto pode-se observar ao longo de todo o soneto, culminando com a indagação final, a traduzir toda a perplexidade diante da total impossibilidade de se compreender o próprio amor. Camões parece estar coberto de razão ao afirmar que "tão contrário a si é o mesmo amor", mas diversamente do percurso camoniano, ele aponta para a alma, então, o poeta parece chegar a uma conclusão, expressada pela interrogação no último terceto. A forma do soneto corresponde ao tema do poema. Podemos dizer que a primeira vista é um jogo renascentista, mas depois descobrimos o sentido profundo do poema. E nisso encontramos a arte do autor – nesta capacidade de tomar de leve (como se fosse jogo) um tema que nos faz pensar profundamente nos problemas psicológicos bastante complicados. Portanto esse soneto trata de uma verdade enunciada com aparência de mentira.




Fonte:
http://pt.shvoong.com/humanities/1764583-an%C3%A1lise-soneto-amor-%C3%A9-fogo/#ixzz1oLJCG1X6
 
acesso em 06/03/2012

Análise do poema “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias

Análise do poema “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias


categoria: poesia, teoria literária 0 Comments - Leave a comment!.Este texto é uma anotação de uma análise feita em aula pelo professor Eduardo Martins. O professor não é de modo algum responsável por erros, omissões ou imprecisões na análise.



O poema foi escrito enquanto Golçaves Dias estava em portugal cursando Direito.



O poema pertence ao gênero Lírico, que não conta uma história e sim exprime um estado de ânimo de um “eu”, o “eu” lírico.Os elementos de cenário servem como metáforas desse estado de espírito e tem papel muito mais importanbte do que cenários onde se desenrola uma história.



O poema começa com o uso de uma epígrafe, prática comum no romantismo, que possui função semelhante à clave musical, servindo para sugerir o tom da interpretação do poema.



O poema começa com a oposição da terra natal do eu lírico como lugar distante (lá) e a terra do exílio. Essa oposição parte de elementos prosaicos e vai num crescendo até atingir a própria vida.



A comparação não se dá entre coisas que existem na terra natal e não no exílio, mas sim entre elementos presentes em ambas as terras, subjetivamente afirmando a superioridade da terra natal.



Forma

O poema possui 3 quadras e 2 sextetos. A forma é simples, e essa simplicidade se reflete também no vocabulário. Mas a simplicidade não é sinal de “pobreza” e sim de grande habilidade no manuseio dos recursos formais do poema.



O poema possui uma “musicalidade” que é dada pelo ritmo e pelas rimas. Rimas são a repetição de alguns sons iguais ou semelhantes, no final ou no interior dos versos. No caso da “Canção do Exílio” as rimas se dão nos versos pares e os ímpares não rimam (embora alguns versos ímapres possuam rima “toante”, que é a rima apenas da sílaba tônica”. A rima comum seria a “soante”).



A repetição sonora é reforçada pela repetição de palavras, o que acaba por ecoar e firmar o aspecto musical do poema. A repetição dos versos acabam por criar um “refrão”, o que soma o aspecto “musical” do poema.



O ritmo, na literatura neolatina, é dado pela sucessão de de sílabas fracas e fortes, ao se dividr as sílabas poéticas (como as sílabas são pronunciadas e contadas até a última sílaba tônica do verso).



No exemplo:



Mi/nha/ te/rra /tem/ pal/mei/ras

On/de/ can/ta o/ sa/bi/á

As/ a/ves/ que a/qui/ gor/jei/am

Não/ gor/jeiam/ co/mo/ lá



Acabam produzindo o seguinte ritmo, se considerarmos a notação / para sílaba forte e _ para sílaba fraca:



/_/_/_/

/_/_/_/

_/__/_/

/_/_/_/



Note o terceiro verso. O ritmo é destoante dos outros três (1°, 2° e 4°). Esse verso diz justamente “As aves que aqui gorjeiam”, ou seja uma referência à terra do exílio. O ritmo é quebrado sempre que o poeta se refere à terra do exílio. Nos versos 21, 22, e 23 também há quebra do ritmo, mas associada à grande tensão do “eu” lírico. Desse modo, a forma do poema é usada para dar consistência ao seu conteúdo.



O poema pertence à primeira geração romântica no Brasil, que coincide com a época da independência, estando associada à grandes aspirações nacionalistas e interesse pelas coisas do país, a “cor local”, refletindo, no romantismo, elementos da geografia local, afirmando a diferença e independencia de Portugal, inclusive literariamente.



Como a língua é a mesma, buscam uma teoria alemã que afirma a diferença na geografia. Essa teoria dividia a europa em dois “hemisférios literários”: o sul, mediterrâneo, luminoso, que se reflete na literatura greco romana e o norte brumoso, frio, que se reflete na cavalaria cristã romântica. Dessa forma os romantistas brasileiros resolvem o conflito da diferenciação literária mesmo compartilhando a língua com Portugal.



Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.



Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas tem mais flores,

Nossos bosques tem mais vida,

Nossa vida mais amores.



Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá.



Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar – sozinho, à noite -

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.



Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

FONTE: http://pt.shvoong.com/humanities/1764583-an%C3%A1lise-soneto-amor-%C3%A9-fogo/
acesso 06/03/2012