Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
A expressão Pré-Modernismo foi elaborada pelo crítico literário Tristão de Ataíde (pseudônimo de Alceu Amoroso Lima) para dar nome ao período literário brasileiro que vai do início do século 20 à Semana de Arte Moderna.Como todas as periodizações, essa também, por ser arbitrária, pretende reunir, no espaço de duas décadas, os autores que, pela forma e/ou conteúdo de seus textos anteciparam-se às mudanças que seriam propostas pelos modernistas.No mesmo período, contudo, existiam outras correntes literárias no país, sendo que ainda exerciam notável influência os parnasianos Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Francisca Júlia. Dessa forma, os primeiros anos do século 20 conhecerão outros poetas, mais jovens, que também defendiam o rigor formal e a teoria da arte pela arte, como Amadeu Amaral e Martins Fontes, entre outros.Ainda nesse período de duas décadas encontramos alguns sucessores dos simbolistas Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens, como Emiliano Perneta e Pedro Kilkerry, além de vozes poéticas que poderiam ser classificadas como independentes. Nesse último grupo merecem atenção Raul de Leoni e Augusto dos Anjos, "dois valores artísticos", segundo Alfredo Bosi, "que transcendem as características literárias da época, tendo, por isso, resistido à demolição modernista".No que se refere à prosa, Coelho Neto e Afrânio Peixoto ainda escreviam, mas seguindo antigas escolas literárias, como a parnasiana ou a realista.
Ficcionistas precursores de 22Ao mesmo, no entanto, começam a surgir ficcionistas que manifestam visível tendência nacionalista - ou, melhor dizendo, regionalista - e que são os primeiros e verdadeiros pré-modernistas:
Simões Lopes Neto (1865-1916) - gaúcho, é a principal figura do regionalismo rio-grandense, com Contos gauchescos (1912) e Lendas do Sul (1913).
Afonso Arinos (1868-1916) - mineiro, seu principal livro é a coletânea de contos Pelo sertão (1898).
Valdomiro Silveira (1873-1941) - seus contos retratam o caboclo do interior paulista. Disputa com Afonso Arinos o título de introdutor do regionalismo na literatura brasileira. Publicou sua obra em jornais e revistas, de maneira que grande parte dela encontra-se inédita em livro. Teve apenas quatro livros editados, dentre eles: Mixuangos (1937) e Leréias (1945).
Monteiro Lobato (1882-1948) - três livros de contos (Urupês, 1918, Cidades mortas, 1919, e Negrinha, 1920) centralizam sua narrativa em parte regionalista, cuja visão pessimista do interior de São Paulo se concentra no caipira ignorante, o famoso Jeca Tatu.No romance, o Pré-Modernismo apresenta dois nomes significativos:
Graça Aranha, cujo romance Canaã (1912) é sua melhor produção, ainda que irregular; e
Lima Barreto, que se notabilizará por retratar os dramas humildes, as tragédias da baixa classe média e dos pequenos funcionários públicos, tendo como cenário os subúrbios cariocas. Sua obra principal é O triste fim de Policarpo Quaresma (1915).
Ensaísmo com raízes nacionaisMas há um terceiro grupo de escritores que foi crucial para introduzir no país uma visão cultural moderna. Ele é formado por ensaístas, cronistas e críticos que se voltaram às questões internas do país, em diferentes aspectos, tentando encontrar soluções que não fossem meras cópias das experiências europeias. São eles:
Euclides da Cunha - seu Os sertões (1902) é obra dramática, realmente portentosa, verdadeiro libelo social. Em suas coletâneas de ensaios, Euclides revela-se um pensador liberal, democrático e progressista.
Alberto Torres - pensador da área jurídica, juiz do Supremo Tribunal, propôs uma reforma política que limitasse os poderes do presidencialismo. Foi um reformista preocupado com a realidade social do país. Merece atenção a sua obra O problema nacional brasileiro (1914).
Oliveira Viana - foi o primeiro estudioso a aplicar à história brasileira cânones sociológicos. Compôs estudos notáveis sobre a formação da etnia brasileira. Seu Populações meridionais do Brasil (1920) é obra clássica no gênero.
Monteiro Lobato - nacionalista polêmico, renovador da indústria editorial brasileira, fundador da nossa literatura infantil, seu nome está ligado a grandes campanhas nacionais, na quais batalhou pela saúde pública e pela exploração das reservas ferríferas e petrolíferas em solo nacional.
João Ribeiro - filólogo de grande cultura (clássica e moderna), formulou, pela primeira vez na linguística brasileira, o conceito de "língua nacional".
Farias Brito - filósofo de linha espiritualista, sofreu influência de Spinoza. Coloca ênfase na moralidade como "função prática" de toda filosofia e base de todo direito.
Antônio dos Santos Torres - colaborou ativamente na imprensa carioca. Polemista, grande prosador, perseguia nos fatos cotidianos as contradições e fragilidades da sociedade. Antilusitano sistemático.
Carlos de Laet - polemista de intensa colaboração na imprensa. Monarquista e católico fervoroso. Combateu o protestantismo e a república. Em uma de suas famosas polêmicas, manteve acesa discussão com Camilo Castelo Branco a propósito do "dialeto brasileiro".
Jackson de Figueiredo - convertido ao catolicismo em 1919, torna-se polemista na imprensa, além de fundar a revista A Ordem (1921) e o Centro Dom Vital (1922). Humanista, é dos grandes prosadores brasileiros do início do século 20.
Nestor Vítor - editor, poeta, ficcionista e ensaísta, também escreveu literatura de viagens e produziu crítica literária. Estudioso do Simbolismo brasileiro, preparou as obras completas de Cruz e Souza. É nesse complexo quadro de relações culturais que surgirá, em 1922, o Modernismo brasileiro.
Bibliografia
O Pré-Modernismo, Alfredo Bosi, Editora Cultrix, 5ª edição, s/d.
História da Literatura Brasileira, Luciana Stegagno-Picchio, Editora Nova Aguilar, 1997.
A literatura brasileira, 2 v., José Aderaldo Castello, Edusp, 1999.
Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira, org. de José Paulo Paes e Massaud Moisés, Editora Cultrix, 1967.
DISPONÍVEL EM: http://educacao.uol.com.br/literatura/pre-modernismo.jhtm
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